Dias Úteis e Inúteis: Desafiando a Produtividade

Hoje, meu filho fez uma pergunta aparentemente simples, mas que desencadeou uma reflexão profunda em nossa casa. Ele quis saber o significado da expressão "dias úteis". Ao tentar explicar, percebi que a definição padrão não captura a complexidade do que realmente significa viver em uma sociedade que valoriza, muitas vezes de maneira desproporcional, a noção de dias úteis em contraste com os chamados dias "inúteis".


Minha resposta inicial foi simplista, limitando-se a associar "dias úteis" aos dias de trabalho, à semana padrão. Contudo, meu filho, com sua curiosidade aguçada, questionou se os sábados, domingos e feriados poderiam ser considerados "dias inúteis". Ele provocou uma reflexão profunda: todas as atividades que normalmente realizamos nesses dias, como passear, ouvir música, brincar, visitar amigos, acordar tarde, seriam realmente coisas não úteis?

A sociedade em que crescemos nos ensinou que o trabalho enobrece o homem, valorizando a produtividade e as conquistas derivadas dele, como bens materiais e status. Chegamos a um ponto em que o executivo dedicado passa a maior parte de seu dia no escritório, sentindo-se culpado ao sair antes de concluir todas as tarefas. A busca por posições de destaque muitas vezes exige abdicações significativas em outras áreas da vida, como relacionamentos, lazer, saúde e, inclusive, o convívio com os filhos.

A indagação que surge é: será que estamos no caminho certo? Trabalhar incessantemente durante toda a vida para, ao nos aposentarmos, nos tornarmos um fardo para a sociedade, considerados inúteis e não produtivos? A sociedade, em sua estrutura atual, muitas vezes parece negligenciar o valor intrínseco de outras formas de existência além da produtividade laboral.

Nesse contexto, as palavras de Rubem Alves ressoam com força: somos gente, não ferramentas. Ao contrário de uma ferramenta que precisa ser útil para justificar sua existência, a essência humana não deve ser reduzida ao mero fazer, mas ao ser. Meditar, brincar, apreciar uma bela melodia, dançar, ler um livro magnífico, fazer uma viagem e admirar a beleza natural de uma flor – essas são atividades que encapsulam a verdadeira essência de ser e viver.

A busca incessante por dias úteis muitas vezes nos faz esquecer do valor intrínseco de cada momento, do equilíbrio entre o trabalho e as experiências que enriquecem nossa existência. É um convite para repensarmos nossa relação com o tempo, reconhecendo a importância de investir em momentos de contemplação e autenticidade, que, por sua vez, contribuem para uma vida mais plena e significativa.

Assim, desejo a todos nós não apenas bons dias úteis, mas dias em que possamos verdadeiramente SER, celebrando a riqueza das experiências que transcendem a mera utilidade, abraçando o ser humano completo em sua complexidade e autenticidade.

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