Paixão Desmedida: Entre a Idealização e a Realidade nas Relações Amorosas

Num dia específico de 2005, deparei-me com um artigo de Contardo Calligaris em um jornal. Esse artigo foi como um estopim para mim, o verdadeiro pino da granada. Calligaris levanta questões sobre "nossas impotências e incompetências sentimentais" após assistir ao filme "Closer - Perto Demais" (recomendo também).

O ponto central de reflexão é: o que nos leva a trocar um amor duradouro por uma visão superficial e passageira? Qual é o verdadeiro motivo da traição? Pode-se começar abordando instintos, necessidades biológicas, busca por novidades, necessidade de aventura, entre outros. No entanto, Calligaris nos leva a um caminho reflexivo mais complexo: a idealização. "Apaixonar-se é idealizar o outro, durar no amor é lidar com a realidade do(a) amado(a)" (uma verdade dura e desafiadora!).


Aqui nos encontramos em um impasse: se ficamos tão próximos do ser amado, não podemos mais idealizá-lo, e sem idealização, a paixão desaparece. Por outro lado, se ficamos longe, perdemos a oportunidade de lidar com a realidade dele e abrimos mão de sua companhia, cumplicidade e amor.
Cada um escolherá seu próprio caminho. No entanto, a razão pela qual escolhemos entre esses dois caminhos é o grande "X" da questão para mim. Foi nesse ponto de reflexão que encontrei uma frase que parece inquestionavelmente verdadeira: "a inconsistência amorosa talvez seja a expressão imediata do desejo de mudar - não de mudar de parceiro, mas de se reinventar... apenas a convicção e esperança de que a paixão nos transforme".

Acredito que quem precisa de tantos parceiros ao longo da vida revela insegurança e a falta de algo dentro de si mesmo. Provar seu poder de conquista pode aumentar a autoestima. Experimentar outro papel, através da idealização do parceiro, proporciona a oportunidade de trilhar caminhos diferentes, ousar.
Mas qual é o preço? Buscar um caminho que, à primeira vista, parece mais fácil e poderoso pode levar a sérias consequências, desde a imaturidade crônica até a devastadora covardia e culpa.
Ah, esse livre arbítrio...

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